Reportagem do Estadão nesta segunda-feira (19) mostra que mensagens encontradas no celular de Adauto Soares Jorge, ex-diretor da empresa de ônibus Transunião, revelam, segundo a polícia, uma série de pagamentos semanais no valor de R$ 70 mil, realizados através do caixa da empresa, ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Essas informações constam de um inquérito conduzido pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), ao qual o Estadão teve acesso, e as investigações estão sob sigilo judicial.
A Transunião é uma das três empresas de ônibus da cidade de São Paulo cujos diretores ou acionistas estão sendo investigados por crimes associados ao PCC.
A empresa possui uma frota de 467 ônibus e opera em dois lotes do sistema de transporte público da cidade. O caso começou a ser investigado a partir do assassinato de Jorge, ocorrido em 4 de março de 2020, em um estacionamento na zona leste de São Paulo. O Estadão tentou contato com a empresa para comentar sobre o assunto, mas não obteve resposta.
Adauto Soares Jorge estava acompanhado por Devanil Souza Nascimento, conhecido como Sapo, um antigo funcionário da Transunião e motorista do vereador Senival Moura (PT), que é líder da oposição na Câmara Municipal de São Paulo e um dos fundadores da Transunião.
Segundo a polícia, Devanil era supostamente envolvido em um esquema de administração de creches subsidiadas pela Prefeitura e foi investigado no inquérito sobre o homicídio, assim como Senival Moura, sob a suspeita de ter levado Jorge até o local onde foi assassinado, sabendo da emboscada.
Tanto Devanil quanto Senival negam as acusações, alegando inocência. Em um discurso feito em junho de 2022 no plenário da Câmara, Senival afirmou: “Operamos com a Transunião até o dia 4 de fevereiro de 2020. No dia 5, haveria uma assembleia da empresa, na qual eu e Adauto Soares Jorge fomos aconselhados a não participar. Quando recebi essa informação, decidi me afastar. Nós fundamos essa empresa, mas eu me desliguei dela”.
O relatório do inquérito, ao qual o Estadão teve acesso, conclui que “a morte de Adauto Soares Jorge estava relacionada a um esquema de desvio de verbas da empresa de transportes públicos Transunião, que desde o seu início, ainda como cooperativa, vinha sendo utilizada para lavagem de dinheiro proveniente do crime, especialmente valores obtidos ilegalmente pelo Primeiro Comando da Capital”.