Os Correios vivem uma sequência de crises que se retroalimentam. A empresa acumula 12 trimestres consecutivos de prejuízos e, na tentativa de reorganizar as finanças, agora encara um volume recorde de disputas trabalhistas. Em meio à instabilidade, a estatal busca apoio do Tesouro Nacional para viabilizar um empréstimo de R$ 20 bilhões.
O impacto jurídico veio logo depois do agravamento financeiro. De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os Correios registraram mais de 56 mil novas ações trabalhistas nos últimos 12 meses, uma média de 154 por dia. O total de processos em andamento chegou a cerca de 75 mil até 23 de outubro.
O número é expressivo: equivale a cerca de 70% do quadro atual de funcionários, que soma 83 mil pessoas. Parte dessas ações foi movida por empregados que ainda trabalham na companhia, o que evidencia o tamanho da insatisfação interna.
O passivo é resultado de anos de má gestão e de falhas em áreas como saúde ocupacional, cumprimento de acordos coletivos e administração de pessoal. Segundo o CNJ, há processos que se arrastam há mais de três décadas.
Em 2024, a empresa desembolsou R$ 1,1 bilhão para quitar condenações. Nos seis primeiros meses de 2025, o valor já chegou a R$ 1,5 bilhão. Em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo, os Correios informaram que iniciaram um levantamento técnico dos dados para reduzir os custos judiciais.
Rombo financeiro e perda de competitividade dos Correios
A deterioração financeira da estatal começou no terceiro trimestre de 2022, com uma perda de R$ 121 milhões. Desde então, os resultados negativos se repetem. O prejuízo atingiu R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre de 2025, elevando o total acumulado para R$ 8,38 bilhões.
Paralelamente, os Correios perderam espaço para concorrentes privados que investem em eficiência e tecnologia. Essa defasagem contribuiu para o aumento das despesas e a perda de receita.
Os problemas jurídicos também se concentram em regiões específicas. A empresa lidera o volume de processos em cinco tribunais regionais: Campinas (7.938 ações), Bahia (3.901), Distrito Federal e Tocantins (3.475), Pernambuco (2.557) e Piauí (858). No Rio de Janeiro, ficou em segundo lugar, atrás da Petrobras, com 7.443 casos.
A combinação de déficits e passivos trabalhistas reforça o cenário de alerta sobre a sustentabilidade da empresa centenária.